Lacerda Comércio e Serviço

Emissões diretas de CO2 dos edifícios precisam ser reduzidas pela metade até 2030 para encaminhar o setor para a neutralidade climática até 2050.

O setor de construção civil causa diversos e gigantescos impactos para o meio ambiente – o Relatório de Situação Global 2020 para Edifícios e Construção da Aliança Global para Edifícios e Construção da ONU, mostra que as emissões do setor atingiram níveis recordes em 2019:

  • O setor é responsável por 38% de todas as emissões de CO2 relacionadas à energia;
  • As emissões diretas de CO2 dos edifícios precisam ser reduzidas pela metade até 2030 para encaminhar o setor para a neutralidade climática até 2050.

Por isso, temos visto cada vez mais a temática de sustentabilidade inserida nos espaços de discussão do setor, inclusive por países que possuem um alto número de empreendimentos, como China e Emirados Árabes Unidos. Nesse contexto, o relatório da ONU recomenda algumas medidas para que o setor possa avançar em práticas que contribuam com uma transição mais verde:

● Os proprietários e empresas devem usar metas baseadas na ciência para orientar ações e se envolver com as partes interessadas em todo o projeto, construção, operação e usuários do edifício para desenvolver parcerias;

● Os investidores devem reavaliar todos os investimentos imobiliários através de uma lente de eficiência energética e de redução de carbono;

● Outros atores em toda a cadeia de valor devem adotar conceitos de economia circular para reduzir a demanda por materiais de construção, reduzir o carbono incorporado e adotar soluções baseadas na natureza que aumentem a resiliência dos edifícios.

De acordo com o United States Green Building Council (USGBC) o Brasil é o quinto país com mais construções sustentáveis no mundo. O ranking, que leva em conta 180 países, é formado a partir de uma análise que envolve desde projetos em estágios iniciais até a operação de empreendimentos imobiliários.

Como as empresas da cadeia de produção do setor podem contribuir para uma transição mais verde

Conversamos com especialistas do setor para entender um pouco mais sobre como as empresas têm trabalhado para que a construção sustentável ganhe mais espaço nas obras de construção civil, e trago alguns pontos que foram citados como essenciais.

O mercado de construção civil ainda é muito bruto – mas, de certa forma, já podemos observar pequenas mudanças acontecendo. Explico, atualmente existe um movimento muito relevante das corporações em investir tempo e pesquisa na procura e criação de materiais que sejam mais leves e sustentáveis. Mas essa fase preliminar ainda não é suficiente para lidar com todas as etapas que uma cadeia tão complexa como essa engloba. O olhar precisa ser mais transversal para que as mudanças aconteçam de forma mais sistêmica em todas as etapas, desde a elaboração, distribuição e descarte dos materiais.

A crença, segundo os especialistas, é de que iremos conseguir enxergar avanços significativos a partir de uma mudança de hábitos e de pensamento. Por exemplo, mostre para o mestre de obras que os tipos de materiais sustentáveis duram mais tempo e geram menos impacto negativo para o meio ambiente (como menos uso da água, energia e etc). É claro, que mudanças como essas relacionadas à cultura e mudanças de hábitos levam tempo e devem acontecer de maneira gradual ao longo dos próximos anos.

Uma outra ótica, quando falamos de mudanças mais estruturais, são os incentivos oriundos de políticas públicas do governo. Já podemos observar esses movimentos acontecendo ao redor do mundo. Na Alemanha, por exemplo, os cidadãos que produzem um excedente de energia obtida por placas fotovoltaicas são remunerados pelo estado.

No Brasil existem alguns incentivos fiscais – o mais conhecido é o IPTU Verde, que como diz o nome – aplica uma porcentagem de desconto sob o IPTU para obras que implementarem sistemas ecoeficientes nas suas construções ou reformas.

Hoje também existem alguns selos que podem ajudar as empresas que optarem por uma construção mais sustentável, é o exemplo do selo GBC que reduz custos operacionais ao longo do ciclo de vida da edificação, e do consumo de água, energia, resíduos enviados para aterros e emissões de gases de efeito estufa.

Para além dos selos, a reutilização dos materiais é um caminho possível para que as soluções sejam mais acessíveis, a exemplo da Jasmin, startup de impacto que utiliza os resíduos e rejeitos para produção de materiais com baixo impacto ambiental.

Assim como a Jasmin, existem outras startups já mapeadas pelo Quintessa que podem contribuir com uma transição de tecnologias mais sustentáveis para o setor:

Noah – a startup utiliza tecnologia e madeira engenheirada para construir em até 50% mais rápido que os métodos tradicionais. Segundo dados levantados pelos empreendedores, os empreendimentos são entregues mais rápidos e sem resíduos.

Amata – Através da gestão de florestas nativas e plantios de espécies exóticas e nativas que a AMATA produz madeira para os mais variados usos. E, desta forma, substitui a madeira ilegal e diminui a pressão do desmatamento nas florestas.

Sabemos que mudanças como essas precisam de tempo, pesquisa, investimento e reeducação do setor para que possam acontecer em grandes escalas, mas dada a necessidade urgente que temos para cumprir as metas de desaceleração dos danos causados pela emergência climática e a relevância do setor de construção civil na emissão de gases causadores do aquecimento global, esperamos que as soluções, selos e compromissos que já estão surgindo sejam propulsores para que os avanços necessários possam acontecer.

Fonte: Um Planeta

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